Nesta terça-feira (17), Israel realizou um ataque aéreo ao Hospital Batista Al-Ahli, na Faixa de Gaza, matando cerca de 500 pessoas. Segundo a emissora Al Jazeera, milhares de civis buscavam tratamento médico no hospital e se abrigavam contra os ataques.
“O Brasil precisa assumir responsabilidades frente à sua condição de país líder, que respeita as resoluções da ONU e o direito internacional e humanitário, e romper as relações diplomáticas com Israel em virtude desde genocídio”, exorta Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil – FEPAL.
A conversa do representante com o jornalista Paulo Cannabrava já estava agendada há dias, mas foi surpreendida, poucas horas antes do programa, com as notícias do bombardeio ao complexo de saúde.
“Estamos diante de um grande crime de lesa humanidade, mais um cometido pelo regime sionista”, aponta Rabah, que denuncia ainda a cumplicidade das principais potências ocidentais, capitaneadas pelos Estados Unidos.
O gabinete de comunicações das autoridades palestinas, líderes políticos, analistas internacionais e entidades ligadas aos direitos humanos também condenaram o ataque, considerado um crime de guerra.
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Ao todo, de acordo com líder da Fepal, já são mais de 5 mil mortes em Gaza em 10 dias. “Nós estamos falando de 2,2 milhões de habitantes. Este número de mortos, se fosse aplicado à população brasileira, equivaleria hoje a mais de 500 mil mortos em apenas 10 dias”, elucida.
Israel negou a responsabilidade e chegou a atribuir a agressão à Jihad Islâmica, grupo armado que atua dentro de Gaza. A alegação já está sendo desmentida nas redes:
Um novo vídeo contradiz a versão israelense de que mísseis da Jihad Islâmica teriam atingido por engano o Hospital Batista Al-Ahli. No vídeo, dá pra ver os mísseis em direção a Israel e a explosão no hospital acontecendo na direção oposta, antecipado por um rastro no céu. https://t.co/M9pe7KMrlH
— William De Lucca (@delucca) October 18, 2023
O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, decretou três dias de luto. Hussein Al-Sheikh, secretário-geral do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), convocou uma reunião de emergência em resposta à situação.
Além da agressão ao hospital, administrado pela Diocese Episcopal de Jerusalém, uma escola administrada pela ONU, que abrigava refugiados, também foi atacada.
Tão importante quanto o posicionamento diplomático do Brasil, é agir em território nacional, explica Ualid Rabah: “Deve-se investigar as organizações sionistas, que promovem o ódio, o racismo, a intolerância e a defesa do genocídio do povo palestino” no país, observa.
No mesmo sentido, ele joga luz à atuação dos meios de notícia hegemônicos brasileiros, que “promoveram o linchamento midiático” do povo palestino: “Os grandes veículos de comunicação no Brasil, os seus proprietários e os seus editores ainda responderão por crimes de lesa humanidade”, advoga.
Abaixo, confira a transmissão completa da entrevista cedida por Ualid Rabah ao Dialogando com Paulo Cannabrava desta terça-feira (17), na TV Diálogos do Sul. E, a seguir, a transcrição dos principais pontos da conversa.
Ualid Rabah: Boa tarde a todos que estão conosco em mais essa jornada na Diálogos do Sul. É uma pena que nós estejamos para abordar um verdadeiro genocídio. Nós estamos definindo os acontecimentos na Palestina já há bom tempo, mas especialmente a partir deste momento, a partir de poucos minutos atrás, em que um hospital cheio de feridos, a maior parte deles com gravidade, até mutilados, bem como todos os profissionais de saúde que estavam ali, bem como muitos outros civis que são parentes ou amigos desses hospitalizados, que sofreram um ataque desumano de Israel hoje, novamente um ataque, desta vez a um hospital como que resulta em no mínimo 500 mortes, já há quem fale que superou mil. E, provavelmente, é o último dos hospitais de maiores dimensões, com maiores capacidades de atendimento à população, sitiada da Faixa de Gaza.
Então, nós estamos diante de um grande crime de lesa humanidade, mais um cometido pelo regime sionista, doente estatal, tornado estatal, denominado Israel, com a cumplicidade mais uma vez, de parcela grande das principais potências ocidentais, à frente delas, os Estados Unidos. Os Estados Unidos são responsáveis, primeiros, de mais esse crime, de mais esse genocídio contra o povo palestino. Já são mais de 5 mil as mortes em Gaza em 10 dias. Poucas guerras na história humana mataram tanta gente em tão pouco tempo, considerando especialmente que nós estamos falando de 2,2 milhões de habitantes. Este número de mortos, se fosse aplicado à população brasileira, equivaleria hoje a mais de 500 mil mortos em apenas 10 dias.
O número de feridos ultrapassa os 1.200, 1.300, grande parte deles graves, gravíssimos ou mutilados. Isso equivaleria a perto de um milhão e duzentos, equivaleria a perto de um milhão e trezentos feridos e mutilados no Brasil. Só pra gente fazer uma comparação. Esse é um grande genocídio, é assim que tem que ser definido, Israel precisa ser parado.
E o Brasil precisa assumir responsabilidades frente à sua condição de país importante, de país líder, de país que respeita as resoluções da ONU, respeita o direito internacional, especialmente o humanitário. Deve assumir as suas responsabilidades neste momento difícil para a raça humana. Deve romper com Israel neste. O Brasil deve, neste exato momento, expulsar o assassino que ocupa uma coisa chamada Embaixada de Israel, que se diz embaixador.
E deve mais. Deve, neste momento, imediatamente acionar o Ministério da Justiça e a Polícia Federal, bem como a Abin, para coibir aqueles que defendem a propaganda de guerra de Israel no Brasil. Mais ainda, deve investigar as organizações sionistas, que promovem o ódio, o racismo, a intolerância e a defesa do genocídio do povo palestino no Brasil. Se isso não for feito, o Brasil estará arriscando a sua reputação de país da paz, estará arriscando a sua reputação de país amante do direito internacional, estará arriscando a reputação de um país que deseja, estará arriscando a sua reputação ao ser suspeito de manchar as suas mãos com sangue palestino, pois os grandes veículos de comunicação no Brasil já o fizeram. O fizeram nas primeiras horas do sábado, quando demonizou o povo palestino, quando mentiu sobre o povo palestino, quando espalhou quatro fake news que foram derrubadas todas no mesmo dia, inclusive grande parte delas pela própria imprensa israelense. Os veículos de comunicação no Brasil promoveram o linchamento midiático, promoveram o genocídio midiático e desde então promovem o primeiro genocídio televisionado da história humana.
Os veículos, os grandes veículos de comunicação no Brasil, os seus proprietários e os seus editores ainda responderão por crimes de lesa humanidade, crimes de guerra e crimes de genocídio. Esta é a situação, é isso que nós precisamos falar sem meias-palavras.
Paulo Cannabrava Filho: Como é que pode haver tanta maldade no mundo e infringir um holocausto ao povo palestino? O holocausto é isso, grande mortandade de um povo, pois é isso que está acontecendo, deixaram uma população de mais de 2 milhões de pessoas sem água. Imagine, água. Água é vida. Sem gás, sem combustível e também sem comida. Não existe vida sem água e sem eletricidade. Nada funciona. Crime de lesa-humanidade, que já vinha sendo perpetrado por Israel há meio século, se agrava. Por mais hediondo que seja o crime cometido pela Hamas, nada justifica sacrificar toda a população da Palestina. Nada justifica.
Ualid Rabah: Nós, na verdade, temos sempre que circunstanciar esses eventos todos que passam na Palestina. Eles têm 76 anos de duração. A limpeza étnica da Palestina começou em 18 de dezembro de 48, promovida ainda pelas gangues eurojudaicas sionistas armadas. Não havia sido ainda autoproclamada declarado Estado de Israel, que só vem a ser em 14 de maio de 1948, quando do término do mandato colonial britânico, otorgado em 22 e implementado a partir de 1923 pela Liga das Nações, para justamente implementar o genocídio do povo palestino para implantar em seu lugar um país exclusivamente judaico, promovido exclusivamente por estrangeiros que nunca estiveram nessa de maio, de dezembro de 47 até 14 de maio de 48, já havia 250 mil palestinos expulsos ou mortos.
E daquele momento, 14 de maio em diante, já pelo autoproclamado Estado de Israel, a limpeza étnica prossegue e até 800 mil palestinos são expulsos. Isso representou 88% da população palestina originária, expulsa do 78% de território tomado e que hoje em dia se conhece por Israel. Então, Israel nasce de um genocídio. Israel nasce de um grande crime de lesa humanidade. Israel nasce da limpeza étnica realizada na história humana, com esta escala e com este método.
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