Leonardo Sakamoto: Morte ‘por engano’ não existe no Rio, onde violência virou cartão-postal

Nine

A morte de Moise bem como as dos ortopedistas Marcos, Perseu e Diego apontam uma cidade que perdeu o pudor para matar. Na qual, o tráfico, as milícias, as polícias, mas também parte da população acreditam que nada acontecerá com eles se atropelarem a lei.

E, na maioria das vezes, nada acontece mesmo – vide as chacinas em complexos de favelas que permanecem impunes.

A liberdade com a qual criminosos atuam em seus territórios, sejam eles fardados ou não, leva o poder público e as regras ao descrédito. E diante disso, o vale-tudo desce ao patamar das relações interpessoais diárias. O mais forte, o mais armado e o que tem mais amigos na política faz a lei.

Justiça para o trabalhador negro que se refugiou em busca de paz e para os médicos que estavam na cidade para um congresso profissional vai muito além de encontrar e punir os mandantes. Passa por uma refundação da política do Rio, que apodrece a olhos vistos devido à promiscuidade com a criminalidade.

Não se morre por engano em uma cidade em que a violência letal é parte do cotidiano. Pelo contrário, a morte torna-se uma possibilidade constante – claro, infinitamente maior se você é negro e pobre.

Por exemplo, o músico Evaldo Rosa e o catador de recicláveis Luciano Macedo, que foi fuzilados pelo Exército “por engano”, com dezenas de tiros, em abril de 2019, na zona norte do Rio. É mais fácil um camelo passar pelo tal buraco da agulha do que o mesmo ocorrer no Leblon.

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