Leonardo Sakamoto: CPI quer linchar Padre Júlio para excitar eleitores da extrema direita

Nine

Padre Júlio, ao dedicar a vida àqueles que o resto da sociedade trata pior do que lixo, é um lembrete da hipocrisia de quem enche a boca para falar da solidariedade presente nas sagradas escrituras do cristianismo, mas tem medo de coloca-la em prática. O convite feito pela pregação de Jesus de Nazaré é simples, mas significa mudanças profundas que muitos que dizem “amém” não estão dispostos a fazer.

Como lembrou o papa Francisco em mensagem pelo Dia Mundial dos Pobres, em novembro, “a partilha deve corresponder às necessidades concretas do outro, e não ao meu supérfluo de que me quero libertar”. E cita o Evangelho de Mateus capítulo 25, versículo 40: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes”. Sim, uma porrada.

E aqui me lembro de uma citação atribuída ao já falecido Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, que lutou contra a ditadura e esteve sempre ao lado dos mais pobres: “Se falo dos famintos, todos me chamam de cristão, mas se falo das causas da fome, me chamam de comunista”.

Linchar o Padre Júlio em praça pública será, portanto, bem recebido por uma parcela que quer calar o incômodo. Mas também por aqueles que, atingidos pela grave situação social que temos no Centro de São Paulo, não culpam as causas que levam pessoas à situação de rua, mas aquele que tenta aliviar a dor delas. Talvez na expectativa de que morram todos por inanição, frio ou calor. Sem contar os arautos da especulação imobiliária, que são os donos da capital.

Não é a primeira vez que políticos de extrema direita promovem linchamentos públicos para colher dividendos eleitorais. Tivemos isso com exposições de arte, com militantes de direitos humanos e mesmo mentiras atribuindo crimes contra o próprio coordenador da Pastoral do Povo de Rua. Ou seja, a CPI das ONGs, ou melhor dizendo, a CPI do Padre Júlio, além de estúpida, padece também de falta de criatividade.

A Arquidiocese de São Paulo entrou em cena, jogando o seu peso. Nesta quarta (3), em uma nota, diz que viu com “perplexidade” a situação e pergunta “por quais motivos se pretende promover uma CPI contra um sacerdote que trabalha com os pobres, justamente no início de um ano eleitoral?”

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