Assim como Bolsonaro, Milei também costuma criticar duramente o sistema político, que ele chama depreciativamente de “a casta”. “Ele se diz antiestablishment, porque é ultracapitalista e acredita que o capitalismo está corrompido por um establishment corrupto. Ele também questiona os empresários, que chama de “empresáurios” (mistura de empresário com dinossauro), em referência àqueles que vivem da ganância, da renda, sem produzir de fato”, conta Santucho.
Embora critique o establishment político, o candidato terá que dialogar e buscar acordos com seus integrantes para poder governar, caso seja eleito.
“Qualquer que seja sua votação, ele não terá um terço de base parlamentar em nenhuma das Casas (Câmara e Senado), então sua estabilidade no cargo dependerá das alianças que fizer com a casta”, afirma o cientista político argentino Andrés Malamud ao Brasil de Fato.
“E já está fazendo, com sindicalistas, empresários e ex-funcionários menemistas [ligados ao ex-presidente Carlos Menem (1989-1999)]. Mas não é suficiente. Ele precisa de mais peronistas ou macristas”. Malamud explica que ter uma base de apoio de pelo menos um terço do Legislativo funciona como um escudo que serve para proteger de, por exemplo, uma tentativa de impeachment.
O passado da Argentina
As polêmicas da candidatura de Milei não se restringem a ele e resvalam também em democracia e direitos humanos, temas particularmente sensíveis no país que teve a ditadura mais letal da América do Sul — estima-se em 30 mil o número de mortos durante a última fase da ditadura, de 1976 a 1983.
Durante a campanha, a candidata a vice na chapa de Milei, a advogada e parlamentar distrital Victoria Villarruel, falou sobre a ditadura militar argentina de uma forma que contraria o longo processo de acerto de contas com esse período autoritário e violador de direitos humanos. Ela afirmou que, se chegar ao governo, irá impulsionar um processo de libertação dos repressores do regime que foram condenados pela Justiça, e que ela considera como “presos políticos”.
“O problema em si é a democracia. No sentido de que as regras da maioria não necessariamente levam a algo bom”, afirmou o candidato numa entrevista concedida em 2019. “Por exemplo, se um candidato propuser matar todos os que se opõem a ele e obtiver 70% dos votos, isso lhe dá o direito de matar os outros 30%?. O que estou dizendo é que não idealizemos a democracia. A democracia, em si mesma, levada ao seu máximo, resulta em populismo. Portanto, basicamente, devemos trabalhar para construir outra estrutura de funcionamento”.
O passado do candidato
Durante a adolescência, Javier Milei foi goleiro de futebol e teve uma banda de rock que tocava músicas dos Rolling Stones. Formou-se em Economia pela Universidade de Belgrano, na Argentina, e fez dois mestrados na área. Atuou em consultorias, bancos e grupos de políticas econômicas. Defende um modelo de capitalismo sem regulação do Estado.
Milei, que completa 53 anos no dia da eleição, teve problemas com a imprensa e recebeu críticas por fazer comentários misóginos. Certa vez, ao comentar sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres, disse que se as mulheres ganhassem mesmo menos, as empresas estariam cheias delas em seus quadros.
Sua campanha é coordenada por uma mulher, sua irmã Karina Milei, única integrante de seu núcleo familiar com a qual ele tem contato, já que com os pais Milei não fala, pois os considera pessoas “tóxicas”. Em entrevistas, ele relatou ter sofrido muitas surras e atribui a isso o fato de não ter “medo de nada”.


