Carol Proner: eu não durmo mais, mas não é sobre a minha cabeça que as bombas explodem

Nine

Também têm sido alvo de ataque planejados os campos de refugiados, espaços habitados por centenas de civis já cercados e agora deliberadamente atacados. E isso combinado com o infame uso da fome e da sede (starvation crime) como arma de guerra. Israel usa o deslocamento forçado para limpar o terreno de acesso ao território já ocupado e sabe que essas pessoas não têm saída. 

E como se fosse o bastante, constata a Anistia Internacional e outras agências especializadas o uso do fósforo branco como arma sobre civis. Isso vai além de um debate sobre se é ou não genocídio, é uma estratégia total de desumanização de qualquer regra jurídica e dos seres humanos escolhidos como alvo.

Fósforo branco (Willy Pete, na Primeira Guerra Mundial), foi aprimorado, é feito de um material químico que, em contato com a pele, não cessa de queimar até chegar nos ossos. Trata-se de arma química e incendiária absolutamente proibida pelo direito internacional. 

O grupo político que conduz a resposta militar de Israel, aparentemente, não distingue entre civis e militares. Todos são terroristas, sejam crianças ou mulheres, idosos, médicos, funcionários humanitários, jornalistas, todos são inimigos. Sendo um homem, jovem ou não, trata-se imediatamente de um terrorista. 

Certamente eu, enquanto escrevo e assim que publicar este desabafo, já serei considerada apoiadora de terroristas ou antissionista, uma inimiga do Estado de Israel. Em grupos de WhatsApp vão me segregar porque escolhi meu lado. E mais inimiga ainda se ousar trazer dos escombros da racionalidade a questão palestina. Devo seguramente já constar em alguma lista de inimigos. Mas meus amigos, muitos deles judeus, estão como eu: sem dormir, chorando diante da impotência e da miséria humana. Hão de se lembrar do massacre de Sabra e Chatila. 

(*) Carol Proner – Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).

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