Se alguém ainda aposta na fantasia como gênero cinematográfico mais propício para o surgimento de grandes franquias, Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1 vem para reforçar que, talvez, esse título fique com os filmes de ação.
A série de filmes que acompanha as aventuras do intrépido Ethan Hunt e seu intérprete sessentão, Tom Cruise, é um dos raros casos em que a maioria absoluta dos filmes é boa. Alguns são excelentes, alguns são bons e alguns apenas ok, mas a média fica lá em cima.
No seu sétimo filme, a franquia se depara com um inimigo incomum e ligado fortemente ao desenvolvimento tecnológico e a dilemas que a humanidade enfrenta quando o assunto é inteligência artificial. Apesar de exagerar no nível da ameaça para justificar a ação, o mais novo Missão: Impossível é eficaz no que se propõe, que é basicamente aumentar a dose de adrenalina ao ponto de fazer todo mundo ficar na beira do assento do cinema.
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Risco iminente
Um dos pontos mais fracos em filmes de ação é o sentimento evidente de que nada vai acontecer com o protagonista e seus colegas de aventuras. É quase um superpoder que pode ser chamado “ajuda do roteiro”, o que afasta o público e torna o caminho traçado pelos personagens insosso e previsível.
Mas não é isso que Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1 entrega. Além de contar com um vilão invisível, que pode estar em qualquer lugar e a qualquer momento, há um clima de despedida que não deixa muito claro como, ou se, alguém realmente vai ser vítima dessa nova ameaça.
O sentimento de que a jornada de Hunt está chegando ao fim é apenas uma impressão justificada pela idade avançada de Tom Cruise e pelo fato de esta ser a primeira parte de um pacote de dois filmes. Além disso, a apresentação de novos personagens de destaque pode indicar uma possível substituição na franquia.
Ainda há um reforço desse palpite que vem pelo resgate de um dos antagonistas mais marcantes na trajetória do herói. Seria esse fechamento o fim das aventuras do nosso coroa aventureiro?
Nada disso é confirmado pela trama. Hunt (e Cruise) ainda parecem dispostos a participar de muitas missões mundo a fora, Hayley Atwell foi uma adição certeira ao elenco, assim como Vanessa Kirby, em menor medida.
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“Parte 1” de respeito
Ao contrário do que acontece com a maior parte dos filmes-continuação que resolvem dividir sua trama em duas partes, o final desta primeira metade foi equilibrado.
Há um esfacelamento do senso de realidade que havia nos antecessores, com recursos clichês que contam com a generosidade dos espectadores para não serem tão exigentes. Há um MacGuffin ao melhor estilo Indiana Jones que faz a história correr, decisões são questionáveis em algumas perseguições e a ideologia de certos personagens parecem virar muito bruscamente, mas nada disso compromete.
Todos os arcos abertos pelo diretor Christopher McQuarrie foram resolvidos satisfatoriamente, à exceção de um, o principal, que já é suficiente para criar uma ligação com a tão aguardada Parte 2.
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Maravilhosamente insano
Há quem diga que Tom Cruise está se arriscando demais e que não há sentido nisso. No fim das contas, o motivo pelo qual ele é movido a adrenalina pouco importa, uma vez que todas as estripulias que ele realiza são ideias dele próprio.
O que interessa ao espectador fã de filmes de ação é que ele está propondo novidades, frescor a um gênero que tende a ser muito repetitivo. É por isso que Missão: Impossível é uma das franquias mais duradouras em Hollywood. É a capacidade de entregar coisas novas em um ambiente que adora uma repetição.
Os filmes não são nenhuma perfeição, mas onde dá para inovar com qualidade, o faz muito bem.
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Fórmula de sucesso?
O apelo nostálgico possivelmente é um grande responsável pelo frequente êxito em sagas de ação, como provam Jason Bourne (Bourne), James Bond (007) e o próprio Ethan Hunt (Missão: Impossível), mas esse não é o único fator de sucesso.
Há “heróis” novos surgindo o tempo inteiro, como John Wick – o primeiro filme saiu em 2014 – e Tyler Rake – O Resgate chegou em 2020, via streaming – e isso apenas engrandece o feito de Tom Cruise, colocando-se no meio desse grupo como se fosse um garotão.
Missão: Impossível se torna, então, um caso bem-sucedido de aposta no passado para entreter o fã do cinema de ação do presente.
Ao mesmo tempo que enche o bolso dos seus executivos com um filme atrás do outro, tem um cara apaixonado pelo que faz e disposto a passar dos seus limites para fazer verdadeiras obras de arte (a cena da moto pulando do penhasco, que você vê acima, é isso: arte pura).
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