O Natal e o Réveillon estão se aproximando rapidamente e, para muitos, isso significa navegar por festividades e encontros regados a álcool.
Estamos rapidamente aprendendo que os efeitos do álcool no corpo humano não são nada bons, para dizer o mínimo. Houve 2,6 milhões de mortes atribuíveis ao consumo de álcool em todo o mundo em 2019, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa contagem inclui mortes por condições causadas pelo álcool — como doenças cardíacas, hepáticas e diversos tipos de câncer — além de mortes por consequências de eventos relacionados ao álcool, como quedas, afogamentos, acidentes de trânsito e suicídio.
Essa estatística é de antes da Covid-19, quando o estresse e o isolamento da pandemia resultaram em um aumento do uso de álcool — que se manteve elevado. Talvez não seja surpresa que muitas pessoas tenham se tornado “sober curious” (curiosas sobre a sobriedade), expandindo a popularidade de bares sem álcool, coquetéis sem álcool elaborados e meses dedicados a essa busca, como o Janeiro Seco e o Outubro Sóbrio.
Beber ou não é uma decisão individual. Histórico pessoal, histórico familiar, tolerância às consequências físicas de curto prazo (perda de controle, embriaguez, apagões ou ressaca), preocupações com a saúde a longo prazo e até mesmo se você gosta do gosto do álcool, tudo isso influencia.
Uma razão pela qual algumas pessoas podem recorrer ao álcool é porque ele é visto como um lubrificante social.
“Eles nos dizem: ‘Sou mais engraçado’, ‘Sou menos tímido’, ‘Sou mais confiante’, ‘Sou mais extrovertido’, ‘Flerto mmais’”, disse o Jason Kilmer, professor associado de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade de Washington, ao correspondente médico-chefe da CNN, Sanjay Gupta, em seu podcast “Chasing Life” recentemente.
Mas Kilmer, que estudou e trabalhou na prevenção de transtornos por uso de álcool e drogas entre estudantes universitários por duas décadas, disse que um experimento inovador, conduzido no Laboratório de Pesquisa Comportamental sobre Álcool (BAR) da Universidade de Washington, mostrou que não é verdade que beber melhora suas interações.
“O álcool faz muitas coisas: o impacto no tempo de reação, o impacto na coordenação motora, o impacto no julgamento — todos são efeitos farmacológicos legítimos do álcool”, disse ele. “Mas as coisas sociais ou interpessoais que obtemos ao beber são muito mais devido à nossa mentalidade, nossas expectativas, nossas crenças, onde estamos e com quem estamos, e muito menos tem a ver com o conteúdo do copo em nossa mão.”
Para o experimento do estudo, estudantes recrutados para o laboratório BAR com 21 anos ou mais (e que assinaram um termo de consentimento) foram divididos em quatro grupos. Os membros de um grupo foram informados que receberiam bebidas com álcool, e receberam; participantes de um segundo grupo foram informados que receberiam bebidas sem álcool, e receberam.
Até aqui, tudo bem. A reviravolta veio com os grupos restantes: os estudantes do terceiro grupo foram informados que receberiam bebidas com álcool, mas receberam bebidas sem álcool, e aqueles do último grupo foram informados que receberiam bebidas sem álcool, mas receberam bebidas com álcool.
Os participantes do estudo que receberam bebidas alcoólicas receberam uma quantidade específica de álcool, baseada no sexo e peso, que os levaria a um nível de álcool no sangue de 0,06%, disse Kilmer.
“Essa é uma dose grande em uma bebida; isso é três quartos do limite legal”, disse ele. “É o suficiente para manter alguém com um nível positivo de álcool no sangue por quase quatro horas depois de atingir esse pico.”
Os pesquisadores os observaram interagindo no laboratório BAR por uma hora. Os resultados foram surpreendentes.
A reação dos participantes nos dois grupos em que as crenças correspondiam ao que foi servido foi conforme o esperado. No primeiro grupo, “parece um monte de estudantes universitários bebendo: o volume do grupo aumenta, as pessoas interagem muito mais”, disse Kilmer.
O segundo grupo, sem álcool, estava mais contido. “É um grupo muito mais quieto, com muito menos interação. Na melhor das hipóteses, parece um grupo de estudantes que não se conhecem e foram convidados a passar uma hora juntos bebendo água”, explicou.
As “descobertas inovadoras”, disse Kilmer, foram com os dois grupos seguintes.
Para aqueles que pensavam estar bebendo álcool e não estavam, a dinâmica do grupo parecia bastante ativa, segundo Kilmer. “O volume do grupo aumentou, as pessoas estão interagindo muito mais, juntando mesas e jogando jogos de bebida com água”, disse ele. “Algumas pessoas relatam sentir efeitos físicos”.
O quarto grupo, com pessoas que pensavam estar bebendo bebidas sem álcool, não apresentou essas interações sociais. “Eles receberam o álcool, mas nada daquela parte social legal aconteceu”, disse ele. “Aos 20 minutos: Todo mundo está sentado pensando, ‘Quando esse estudo idiota vai acabar?’”
Kilmer disse que aos 40 minutos, quando os efeitos físicos do álcool começam a aparecer — o álcool deprime, ou desacelera, o sistema nervoso central — os participantes do quarto grupo atribuíram o que estavam sentindo não à embriaguez, mas a outras coisas, como uma noite mal dormida, estar em uma sala muito quente ou ser desajeitado.
Quanto a todos os benefícios sociais, “isso não vem do álcool para começar”, disse Kilmer. “Provavelmente é muito divertido estar com as pessoas com quem você está saindo, longe do trabalho, escola ou estresse”.
Algumas pessoas ainda podem estar relutantes em soltar aquele copo de festa gigante, garrafa de cerveja ou taça de vinho.
Veja cinco dicas para reduzir os danos do álcoolReduzir ou recusar álcool
Beba menos, ou não beba nada.
“Certamente, se alguém está tentando evitar quaisquer efeitos indesejados, escolher uma opção sem álcool pode ser o caminho que eles escolhem”, disse Kilmer por e-mail.
Se você decidir beber, ele sugere diminuir o impacto do álcool alternando cada bebida alcoólica com um copo de água. “Isso ajudará tanto no ritmo quanto na reidratação”, observou.
A reidratação também diminuirá suas chances de ressaca no dia seguinte.
Não beba com o estômago vazio
A sabedoria popular de comer antes ou enquanto bebe é correta.
“Quando bebemos de estômago vazio, o álcool é absorvido mais rapidamente na corrente sanguínea (e pode resultar em uma concentração mais alta de álcool no sangue)”, disse Kilmer. “A comida retardará a absorção do álcool na corrente sanguínea”.
Então vá em frente e peça aqueles nachos — neste caso, eles são realmente bons para você!
Conte as porções, não os copos
Mantenha o controle do número de doses “padrão” que você consome, não apenas o número de copos vazios na mesa, aconselhou Kilmer.
“Uma bebida mista com duas doses medidas de destilado pode vir em um copo, mas é tratada pelo corpo como duas doses padrão”, disse ele. “O mesmo com uma taça grande de vinho — isso provavelmente será mais de uma dose (padrão)”.
Bolhas são sinônimo de problemas
Esteja ciente do papel da efervescência, disse Kilmer.
“Quanto mais borbulhante for a bebida, mais rapidamente ela é absorvida”, disse ele. “É por isso que as pessoas dizem que sentem o champanhe tão rapidamente”. O mesmo vale para misturas carbonatadas, observou ele. Uma vodka tônica fará efeito mais rápido que uma vodka com suco de cranberry.
Esta informação pode ser relevante se você estiver bebendo champanhe ou outra bebida espumante ou carbonatada em um evento de fim de ano ou festa no escritório.
Mantenha os olhos na sua bebida
Esteja ciente do papel da efervescência, disse Kilmer.
“Se você está realmente tentando reduzir riscos ou danos, não aceite uma bebida se não souber o que há nela”, disse Kilmer, ressaltando que uma bebida “pode representar uma bebida muito mais potente” se contiver mais que a dose padrão de álcool.
Também é importante não deixar sua bebida sem vigilância, disse ele.
“Infelizmente, é possível que alguém tente colocar algo na bebida desacompanhada de alguém”, disse ele.
Dicas bônus
Kilmer tem outras duas dicas que vale a pena mencionar.
O primeiro é um lembrete sobre beber e dirigir. “Tome providências para ter um plano de transporte seguro”, disse ele, se pretende beber.
“É é importante não usar álcool e cannabis de forma que os efeitos se sobreponham”, aconselhou ele. “Isso causa uma interação medicamentosa chamada ‘potencialização’ na qual, do ponto de vista dos efeitos das drogas, 1 mais 1 é maior que 2.”
Fonte: CNN