Como ser turista consciente na Amazônia?

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Primeiro, a teoria. Segundo André Carvalhal, consultor de sustentabilidade e autor do livro Como Salvar o Futuro, “viajar de forma sustentável significa fazer isso de uma maneira sensível às emergências climáticas que, ao mesmo tempo, garanta o bem-estar a longo prazo dos lugares e comunidades que visitamos”. Mas e aí: como fazer isso na prática?

Arco-íris colorindo o Rio Negro: tem coisas que só a Amazônia pode fazer por você.
Arco-íris colorindo o Rio Negro: tem coisas que só a Amazônia pode fazer por você (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
No turismo de base comunitária, você vê todas as belezas da Amazônia com o bônus de viver experiências autênticas e entrar em contato com a comunidade local.
No turismo de base comunitária, você vê todas as belezas da Amazônia com o bônus de viver experiências autênticas e entrar em contato com a comunidade local (Adriana Setti/Arquivo pessoal)

Essa dúvida é ainda mais pertinente quando viajamos a um destino tão crucial para o planeta como a Amazônia. Especialmente porque se o turismo fosse estabelecido de uma forma eficiente e direcionado para o benefício da floresta e das populações locais, poderia ser uma belíssima alternativa à extração de madeira ilegal, ao garimpo e a outras atividades que estão dizimando o maior patrimônio verde do Brasil e do mundo — e isso ainda é incipiente na região amazônica. Aqui vão algumas dicas pra você ser parte dessa corrente do bem na sua próxima viagem:

Escolha hotéis com preocupações ambientais e sociais

Um hotel inserido no meio da selva e cercado por comunidades vulneráveis não pode dar as costas à realidade local. Antes de reservar, procure saber se o lugar realmente tem uma proposta “sustentável” ou se é só da boca para fora — ter duas plaquinhas solares e canudo biodegradável está longe de ser suficiente. O famoso Mirante do Gavião, em Novo Airão, onde foi gravado o reality show Casamento às Cegas, da Netflix, é um ótimo exemplo. Graças a seu idealizador, o empresário Ruy Tone — admiradíssimo por seu trabalho social na Amazônia e, ao mesmo tempo, extremamente low profile —, o resort mantém a Fundação Almerinda Malaquias, ONG que atua como centro de educação ambiental para quase 200 crianças e jovens entre 6 e 17 anos, com o objetivo de prepará-las para protagonizar resoluções ambientais e cuidar da floresta. Como forma de gerar renda, a instituição ainda produz os mais belos trabalhos de marchetaria da Amazônia, que você pode também comprar pela loja on-line.

Mirante do Gavião, onde a diária ajuda a manter fundações dedicadas à educação.
Mirante do Gavião, onde a diária ajuda a manter fundações dedicadas à educação (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
No Mirante do Gavião, a estrutura do hotel eleva-se sobre plataformas e passarelas, para minimizar o impacto no solo amazônico.
No Mirante do Gavião, a estrutura do hotel eleva-se sobre plataformas e passarelas, para minimizar o impacto no solo amazônico (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
O belíssimo trabalho de marchetaria na Fundação Almerinda Malaquias, em Novo Airão.
O belíssimo trabalho de marchetaria na Fundação Almerinda Malaquias, em Novo Airão (Adriana Setti/Arquivo pessoal)

Além disso, o Mirante do Gavião está por trás do Projeto Educação Ribeirinha, que vem construindo e reformando 26 escolas em comunidades isoladas nos arredores de Novo Airão. A concepção dos novos centros de ensino, de bioarquitetura, é do Atelier Marko Brajovic, que busca resgatar os signos culturais das populações originárias para não destoar. Além de proporcionar a infraestrutura adequada — com cozinha, energia solar, internet e acomodação para os professores — o projeto trabalha em parceria com as secretarias de educação municipais e estadual, dando apoio pedagógico para treinar e capacitar educadores, por meio da Fundação Almerinda Malaquias.

Outros bons exemplos de hospedagem sustentável são a Pousada Uacari, dentro da Reserva Mamirauá, e a Pousada do Garido, na comunidade Tumbirá.

Embarque no turismo de base comunitária

Nesse tipo de turismo, as comunidades locais são protagonistas. Além de valorizar a cultura e o modo de vida da região amazônica, essa atividade gera renda e autonomia real às pessoas envolvidas, consequentemente colaborando para a preservação da natureza.  Para quem se interessa por mergulhar na alma de uma região, também é o caminho para viver experiências mais autênticas e imersivas. Não é só pra ser ecologicamente correto: é uma viagem incrível e emocionante.

Viajei com a Expedição Katerre pelo Rio Negro e tive essa vivência em primeira pessoa. Do mesmo proprietário do Mirante do Gavião, a empresa constrói o seu roteiro em cima do turismo de base comunitária. É claro que você também vai nadar com botos, fazer focagem noturna de jacarés e participar de maravilhosos safáris aquáticos para ver animais — bicho-preguiça, ariranha, paca, macacos etc — e o reflexo surrealista da floresta nas águas do Rio Negro. Mas os programas também incluem parar em comunidades ribeirinhas para aprender sobre o processamento da mandioca; conhecer os igapós de canoas tradicionais conduzidas por moradores da região; visitar as escolas do Projeto Educação Ribeirinha e outros passeios que ajudam a entender quem são e como vivem as pessoas que habitam a Amazônia. Veja como é a viagem da Expedição Katerre aqui.

O barco Jacaré-Açu, da Katerre, atracado em uma comunidade ribeirinha ao amanhecer.
O barco Jacaré-Açu, da Katerre, atracado em uma comunidade ribeirinha ao amanhecer (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
Passeio de canoa a remo por um igapó: um dos programas da Expedição Katerre.
Passeio de canoa a remo por um igapó: um dos programas da Expedição Katerre (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
A cada fim de tarde, um espetáculo diferente.
A cada fim de tarde, um espetáculo diferente (Adriana Setti/Arquivo pessoal)
Troca de ideias e experiências com a comunidade local a cada parada da Expedição Katerre.
Troca de ideias e experiências com a comunidade local a cada parada da Expedição Katerre (Adriana Setti/Arquivo pessoal)

Escolha como e onde gastar o seu dinheiro

Dá pra comprar bolsinhas de palha, peças de madeira, óleo de copaíba, colarzinhos de semente e outros badulaques amazônicos em uma loja do aeroporto de Manaus? Até dá. Mas as suas lembranças de viagem terão muito mais significado se você conseguir comprar diretamente nas comunidades, eliminando intermediários. Em uma comunidade do Rio Negro onde comprei um lindíssimo remo de madeira, por exemplo, havia o nome da pessoa que fez cada peça em cada objeto vendido, e o dinheiro ia direto para a família responsável.

Vá com quem sabe

Se você não sabe muito bem por onde começar, vá com quem sabe. Há várias agências especializadas em turismo de base comunitária, a exemplo da Braziliando, da Uika, da Poranduba Amazônia, com experiências em comunidades diversas. Você também pode escolher uma das experiências incríveis da Garupa (@garupa_ong), em vários pontos da Amazônia.

Procure hospedagem na Amazônia pelo Booking


Fonte: viagemeturismo.abril.com.br

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